ORIENTADOR LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. - - - - -- UM PROFISSIONAL EXPERIENTE, especializado em redação criativa, capaz de despertar toda a sua criatividade potencial escondida. = - - - - - - UM PROFESSOR que vai transformar a sua forma de criar e escrever; - - - - - - Experimente, é terapêutico e libertador. - - - - - - AS HISTÓRIAS QUE SÓ VOCÊ TEM PARA CONTAR VÃO FICAR PARA SEMPRE.

O CASO DO CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA

 

Reginaldo começou a trabalhar na agência de uma forma bastante peculiar. Exatamente na mesma manhã em que o último estagiário de redação havia sido sepultado no cemitério São João Batista, após morrer no dia anterior num trágico acidente de moto. 
 
Quando o pessoal voltou do enterro, Reginaldo já estava sentado esperando para ser entrevistado para o cargo de estagiário de redação. A tragédia e o volume de trabalho tramaram a seu favor e a partir daquela manhã Reginaldo começou a estagiar na agência.
 
Na primeira semana já começou a se destacar apresentando trabalhos e soluções criativas muito acima da média para alguém que nunca tinha estagiado em criação publicitária antes. Para os diretores e o pessoal da criação aquela era a sorte grande. Não é sempre que aparece um talento daquele quilate no mercado, ainda mais na figura de um estagiário não remunerado. 
 
O jovem não aparentava mais de 22 anos e rapidamente começou a ser visto como um gênio muito promissor. Mas, sua personalidade era uma incógnita para todos. Era simpático e acessível a todos os colegas de trabalho sem, entretanto, jamais participar das socializações do pessoal nos botecos e restaurantes após o expediente. Mesmo no almoço, quando sempre almoçava com os colegas do departamento de criação, não se demorava e nunca ficava para o cafezinho com o papo furado tradicional. 
 
Assim que acabava de comer dava a desculpa de ir ao banco e só reaparecia de novo na agência, já para cumprir o expediente da tarde. 
 
O pessoal começou a ficar impressionado com a quantidade de vezes na semana que Reginaldo ia ao banco depois do almoço. Em tempos de internet banking, aquilo não fazia o menor sentido para alguém que trabalhava o dia inteiro na frente de um computador conectado permanentemente à internet. E não demorou para começar a surgirem suposições; aonde iria Reginaldo todos os dias após o almoço?
 
O certo é que, sempre que a equipe precisava criar alguma campanha mais robusta, Reginaldo chegava do “banco” com algumas grandes ideias, geralmente aplaudidas por toda a equipe e premiadas nas competições de publicidade. 
 
O ritual era sempre o mesmo; Reginaldo chegava calado, sentava-se na sua estação de trabalho e dali há pouco tempo lá vinha ele com todo o conceito da nova campanha pronto para ser trabalhado pela equipe. 
 
Apenas alguns meses após sua chegada, a agência havia crescido e toda a equipe de criação recebera os louros das brilhantes campanhas imaginadas por Reginaldo. A relação entre o pessoal da equipe se aprofundou naturalmente pela convivência e pelo sucesso, e a camaradagem era cada vez maior. Inclusive com Reginaldo, apesar dele nunca acompanhar o pessoal no chope tradicional no boteco da esquina. 
 
O burburinho começou pela ideia do Victor, diretor de arte que duplava com Reginaldo e, por isso, era mais próximo a ele. Bolaram um plano. Já que a rotina era sempre a mesma, eles esperariam Reginaldo terminar de almoçar com eles e sair para “ir ao banco”. Victor esperaria um pouco e seguiria Reginaldo. 
 
Todos pediram o cafezinho, menos Reginaldo que comunicou sua tradicional ida ao banco. Victor esperou um pouco e saiu atrás dele, se esgueirando pelas árvores e carros da rua Dona Mariana. 
 
    Atravessaram a rua Mena Barreto e continuaram até Reginaldo entrar por um portão lateral de serviço no Cemitério São João Batista. Aquilo estava se tornando cada vez mais esquisito. Victor continuou a segui-lo furtivamente por entre as sepulturas, cada vez mais curioso. Era dali que Reginaldo tirava suas inspirações? Teria ele algum pacto com o outro lado? Aquilo estava ficando bizarro. 
 
Victor continuou se esgueirando por entre os mausoléus cheios de esculturas de anjos, santos e figuras divinas, todas com plaquinhas com fotos e dados dos sepultados. Ele seguiu Reginaldo até a parte mais central do cemitério, para onde ele se dirigia de forma firme e determinada, ele sabia aonde estava indo. Até que entrou por um dos becos ladeados por sepulturas, cujo final terminava num enorme mausoléu ornado com estátuas de arte sacra muito bem cuidadas. Victor chegou a tempo de ver Reginaldo entrando no mausoléu e fechando o portão de ferro atrás de si. Se antes já estava bizarro, agora Victor nem sabia mais nomear o que estava sentindo. Uma mistura de curiosidade atroz com um medo de gelar a espinha. Mas, já que chegara até ali...
 
Foi se aproximando furtivamente até chegar a entrada do imponente mausoléu. Olhou ao redor, o silêncio era total. Olhou para o alto da estrutura que parecia ser de mármore procurando algum nome de família ou qualquer referência de identificação. Viu apenas uma enorme pirâmide com um olho aberto, esculpida em alto relevo no mármore. Ele a reconheceu por ser a mesma marca que as notas de dólar americano trazem impressa. O olho que tudo vê.
Victor se aproximou do portão de ferro que estava levemente entreaberto, colocou apenas a cabeça para dentro e ouviu a voz de Reginaldo:
- Bem-vindo, Victor.
 
Desde aquele dia, após o almoço, o pessoal da agência, a família e os amigos de Victor esperam pela volta da dupla. Reginaldo jamais foi procurado por alguém. Na agência, ninguém sabia sequer o sobrenome dele, já que ele era um estagiário sem contrato de trabalho, nem remuneração. Não havia registro algum da existência de Reginaldo.
 
Nunca mais nenhum dos dois foi visto.
 
Edmir Saint-Clair

NOITE FELIZ


             O espírito do Natal chegava no dia de armar a árvore. Eu tinha uns 4 para 5 anos. Não me lembro direito se era a mesma árvore ou se a cada ano era uma diferente. Mas, todas eram a árvore de Natal da minha casa, que eu, meus irmãos e minha mãe tínhamos montado juntos. Às vezes, meu pai estava também, outras ele vinha para a parte final, que era ligar o pisca-pisca "do jeito certo”. Minha mãe sempre colocava algodão em cada "galho” da árvore para parecer neve. A cada ano, surgiam enfeites novos que se juntavam aos que tinham sobrevivido nos anos anteriores. Lembro claramente de alguns. Era excitante, alegre e divertido.

Tinha o dia certo de escrever cartinha para o Papai Noel. Hoje, penso como minha mãe era hábil. Sempre escolhíamos os presentes que eles poderiam nos dar. Não porque pensássemos neste aspecto econômico, mas porque ela ia, aos poucos, nos induzindo. Incrível, quanta habilidade. Eles não tinham dinheiro para nos dar o que quiséssemos ou o que as propagandas sugeriam, meu pai era muito novo, militar do exército, capitão ainda. Mas, sempre davam o que pedíamos. O que mostra a capacidade de influência que minha mãe tinha sobre nós.

Eram Natais felizes, plenos. Fazíamos listinha com nomes de alguns amiguinhos que gostaríamos de dar presente. Cada uma tinha direito de escolher uns tantos. Eram só lembrancinhas, como dizia minha mãe.

Um dos Natais que mais me marcou foi quando ganhei minha primeira bicicleta. Era o meu maior sonho, na época. Sonhei com ela desde que havia passado de ano por média no colégio e minha mãe e meu pai me sugeriram que pedisse uma bicicleta para o Papai Noel, porque eles achavam que eu merecia e que Papai Noel saberia disso.

Fiquei confiante e escrevi a carta com a certeza de que meus pais tinham algum conhecimento lá com Papai Noel. Quando eu perguntava para minha mãe o que ela achava, se Papai Noel ia me dar ou não, ela piscava o olho e não dizia nada. Mas dizia tudo. Aquele piscar de olhos, para mim, era como se ela falasse claramente que tinha lá sua influência com o Bom Velhinho. E, quando a gente é criança acredita mesmo que mãe seja o ser que chega mais perto dos "seres encantados”.

Foram dias de ansiedade. Quando a gente é criança o tempo demora demais a passar. Perto de aniversário ou natal então chega a ser torturante. Não chega nunca.

Na noite de Natal, chegaram meus tios e primos, a ceia posta. E nada de dar meia-noite. Meu pai, mãe, tios, primos, irmãos e eu. Eles conversando com a porta do apartamento aberta, por onde entravam e saiam vizinhos, que também deixavam suas portas abertas e nos recebiam em algum momento da noite.

No Leblon, nas noites de Natal da minha infância, as portas dos apartamentos sempre ficavam abertas e os vizinhos faziam visitinhas rápidas só para dar Feliz Natal e comer uma rabanada.

Criança não liga para as comidas deliciosas que se faz no Natal. E, pior, ainda são obrigadas a comê-las... Estava tão ansioso que não cabia nem uma ervilha no meu estômago. Minha mãe entendeu e me dispensou daquele martírio.

De repente, algum adulto dá um alarme de que está vendo Papai Noel na janela do quarto, lá dentro.

As crianças correm que nem loucas, mas, não chegamos a tempo de ver, ele tinha acabado de passar na direção da janela da sala. Ouvimos o barulho.

Corre todo mundo de novo de volta para a sala e lá estava a minha primeira bicicleta: uma Monark verde, aro 12, freio contrapedal.

A emoção foi tão forte e a felicidade foi tão grande, que tive certeza que a sentiria para sempre, em todos os Natais que viriam depois.

Edmir Saint-Clair

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A EMPATIA

 


         O ser humano sempre buscou, incansavelmente, estabelecer conexões profundas e verdadeiras entre seu universo interior, original e único, e o mundo que o cerca. É essa busca que nos impulsiona a nos comunicarmos, a expressarmos nossos pensamentos, sentimentos e ideias. 

    Para que essa comunicação seja efetiva, é necessário mais do que simplesmente trocar palavras. É necessário a empatia. E empatia se aprende tentando, se esforçando para alcançá-la, para senti-la. Forçando o nosso cérebro a estabelecer um processo de conexões neurais eficientes com essa finalidade específica.  É preciso ensinar o nosso cérebro . Simplificando, é preciso querer e trabalhar regularmente para atingir isso. Criar o hábito de pensar empaticamente. A empatia é uma habilidade superior que se pode desenvolver. É a potencialização de uma tendência natural do ser humano de se colocar no lugar do outro para tentar compreender uma situação. É ir além de sentir simplesmente uma compaixão passiva primária por uma condição alheia desfavorável. É mais do que isso. A empatia é capaz de gerar ação. É capaz de gerar significados maiores em todos os níveis de relacionamentos, e é capaz de dar um sentido maior à nossa existência.

    A empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de compreender sua perspectiva e suas experiências, sem julgamentos. Ela nos permite ouvir e sermos ouvidos, valorizar e sermos valorizados, aceitar e sermos aceitos. Muitas vezes, é a única forma de despertarmos em nós mesmos sentimentos e emoções que desconhecíamos possuir. É a partir da empatia que somos capazes de ver a complexidade e singularidade de cada indivíduo, incluindo a nossa própria, e de nos conectarmos com ela de maneira autêntica e profunda. Uma conexão profunda só se estabelece em uma via de mão dupla. Quanto mais compreendemos mais nos sentimos compreendidos.

Na realidade, nunca conseguiremos sentir, na própria pele, toda a real intensidade de uma dor que nos é alheia. Que não dói em nosso próprio corpo ou mente. Essa é a nossa limitação como humanos. Por isso, exercitar e fortalecer a empatia é o melhor que podemos fazer para compreender o outro.

Sem a empatia, a comunicação se torna superficial e vazia. As palavras se esvaziam de significados e os relacionamentos se tornam superficiais e distantes.

Quando não nos esforçamos para compreender o outro, perdemos oportunidades de criar laços verdadeiros e estabelecer relações estáveis e duradouras. Sem ela, nunca conseguiremos ser bons pais, filhos, amigos, amantes ou sequer vizinhos.

A empatia não é apenas uma habilidade, mas uma necessidade evolutiva. Ela nos permite criar a conexão profunda que todos buscamos, e a satisfação que vem de compreender e ser compreendido. É a realização efetiva de uma verdadeira troca acolhedora e fértil de nossas emoções. É através da empatia que podemos construir um mundo mais compassivo e autêntico, onde as relações verdadeiramente significativas e compensadoras podem florescer.

Só através do olhar empático podemos superar o racismo, a homofobia, a misoginia, a intolerância religiosa, o xenofobismo e tantas outras mazelas humanas.

E de potencializar nossas possibilidades de felicidade, agregar repertório ao nosso universo pessoal de experiências, e dar um sentido maior à nossa própria vida.


Edmir Saint-Clair

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O DIA QUE MUDOU O MUNDO

        Jorge acordou tarde como seu costume, mas com certeza dormiria mais se não fossem aqueles ruídos incomuns vindos da janela.

     Checou o celular para saber as horas, inutilmente, o aparelho estava sem rede de telefonia móvel. Tentou acessar o WhatsApp quando percebeu que também não estava conectado pelo wi-fi de casa.

     Pulou da cama e, antes de ir até o quarto onde o modem da casa fica, foi até a janela e o trânsito na rua era absolutamente inédito, pelo menos nos últimos 10 anos em que morava ali. A primeira coisa que notou ao entrar no quarto de hóspedes foi que as luzes do modem estavam todas desligadas. Ele estava sem conexão alguma. A primeira sensação foi de muito incômodo e estranhamento. Decidiu verificar a eletricidade de casa e estava sem energia.

          Ligou seu notebook que, para sua sorte, estava com a bateria cheia. Mas, sem conexão alguma. O incômodo inicial deu lugar a uma ansiedade maior do que ele estava acostumado a lidar. Abriu a porta do apartamento, o corredor estava escuro, e os elevadores, obviamente, parados. Um silêncio perturbador emprestava um ar lúgubre ao local.

          Jorge fechou a porta e deu duas voltas na chave. Enquanto a cafeteira lhe preparava um café, ele voltou à janela para olhar mais atentamente. O fluxo de trânsito dos automóveis, além de anormal, estava mais caótico pela falta dos semáforos sem energia. Tomou seu café, se arrumou e resolveu ir até a portaria de seu prédio. O porteiro haveria de ter mais informações sobre aquela estranha e incômoda manhã. Sentia-se ainda mais perdido por não ter ideia de que horas eram. Mesmo sem o relógio do celular, geralmente, ele seria capaz de calcular o horário pela luz e os sons externos. Mas tudo parecia estar caoticamente fora dos padrões normais.

      Usou a lanterna do celular para iluminar os degraus da escada do prédio e não demorou a chegar na portaria.

          “Seu” Cícero segurava a porta enquanto o Célio do quarto andar entrava acompanhado da mulher e dos dois filhos carregados de sacolas de supermercado abarrotadas. Foi quando se deu conta de que a situação era muito mais séria do que ele imaginava. E, em menos de 5 minutos que ele estava na portaria, 3 outras famílias chegaram igualmente carregadas de mantimentos. Jorge percebeu que estava defasado e desinformado. Naquele dia, ter acordado tarde faria toda a diferença.

      Desceu até a garagem para pegar seu carro e ir até o supermercado garantir suprimentos. Ele continuava sem saber nada sobre o que estava causando aquilo tudo, mas, com certeza, era algo grave. O porteiro e os moradores com os quais encontrara também não souberam dizer nada a mais do que o óbvio que todos sabiam por que sentiam a falta. E a cada minuto mais itens eram acrescentados a essa interminável lista.

     Demorou um tempo enorme só para conseguir sair da garagem e pegar a rua totalmente engarrafada. Motoristas e pedestres portavam a mesma expressão grave e preocupada. Em alguns, a ansiedade se exacerbava de forma mais evidente. Em outros, já chegava a um estágio preocupante. Jorge, apesar de muito ansioso e perdido, ainda conseguia manter a racionalidade em níveis funcionais.

     Com estações de rádio fora do ar ele continuava a não ter notícia alguma do que estava acontencendo, tudo que dependia de energia elétrica não estava funcionando, exceção dos locais com geradores próprios.

  Aos poucos foi percebendo que algo muito grave havia ocorrido. Mas não tinha ideia do que poderia ser. Tampouco a extensão. Se era só na sua cidade, só no seu estado, só no seu país ou no mundo inteiro. Lembrou-se de um dos últimos vídeos que assistira no Youtube na noite passada, um podcast sobre ciências, no qual o entrevistado, um astrônomo brasileiro, alertava para uma explosão solar que iria gerar uma onda eletromagnética capaz de interromper a magnetosfera terrestre e, consequentemente, torrar todas as instâncias de comunicação do planeta Terra.

  Satélites seriam destruídos instantaneamente, sistemas de GPS deixariam de funcionar e as linhas de transmissão elétrica sofreriam sobrecargas. Os transformadores mais vulneráveis entrariam em curto, colapsando a rede elétrica em cascata. Redes de equipamentos eletrônicos sensíveis queimariam instantaneamente. Centrais de controle de abastecimento de água, comunicação, transporte e serviços hospitalares e uma infinidade de outros serviços ficariam inoperantes, causando uma interrupção global sem precedentes. O caos subsequente resultaria no colapso da sociedade moderna, com interrupções permanentes em transações bancárias nacionais e internacionais, redes de transportes de terra, ar e mar, afetando todos os segmentos e cadeias de suprimentos.O astrônomo foi ridicularizado online em tempo real e apontado como mais um seguidor das teorias da conspiração.

     Não era.

     Era 4 horas da tarde quando, após 3 horas parado no trânsito, Jorge abandonou seu carro no meio da rua caótica e seguiu a pé, a tempo de ver a horda de populares arrebentar as portas e paredes de vidro do imenso supermercado e dar início aos saques bárbaros e a violência que foi desencadeada por toda a face da terra.

Edmir Saint-Clair

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NATAL: SÃO TANTAS EMOÇÕES

 

O Natal é, sem dúvida, uma das épocas mais marcantes do ano, carregada de simbolismos, tradições e, sobretudo, de emoções intensas. O apelo religioso, romântico e sentimental que permeia essa data é amplificado pelas estratégias de marketing e comunicação, que se esforçam para criar um clima de magia e esperança para canalizar toda essa energia para o consumo. Contudo, esse mesmo clima pode despertar sentimentos contrastantes, dependendo de quem o vivencia e das circunstâncias pessoais de cada um.

Um dos aspectos mais evidentes do Natal é o papel das propagandas e dos comércios na construção de um imaginário coletivo. Anúncios televisivos e vitrines iluminadas convidam as pessoas a embarcar em uma experiência de consumo que, se mistura com o desejo de vivenciar momentos perfeitos. A aquisição de produtos/presentes é estimulada como o caminho para reforçar laços familiares e sociais, e também carrega a promessa de felicidade e sentimento de pertencimento. A mensagem é que os sentimentos devem virar presentes para que a magia da felicidade instantânea aconteça. Chega a ser cruel.

Nesse contexto, é inevitável que sentimentos como ansiedade e frustração também aflorem, especialmente para aqueles que não dispõem de recursos financeiros para atender às expectativas criadas.

Para as crianças, o Natal é sinônimo de encantamento. Contudo, as expectativas infantis também mudaram significativamente nas últimas décadas. Há cinquenta anos, o simples ato de decorar uma árvore, esperar pelo Papai Noel e compartilhar uma ceia em família eram suficientes para preencher os corações da garotada. Num mundo hiperconectado e tecnologicamente sofisticado, as crianças são presas muito frágeis quando expostas a uma infinidade de desejos estimulados por campanhas publicitárias e influenciadores digitais. Esse cenário não apenas eleva as expectativas, mas também pode gerar desilusão quando essas não são atendidas. E, a verdade, é que a maioria não é atendida. O mais triste dessa história natalina é que, exatamente pela importância dada por toda a sociedade a essa data, ela termina por causar marcas profundas e indeléveis que irão acompanhar a criança pela vida. Sejam boas ou más.

O Natal também pode ser um período de melancolia para aqueles que enfrentam a solidão. A época é um lembrete constante de laços familiares e amorosos que foram rompidos ou fragmentados.

Em síntese, entre o consumo incentivado pelas propagandas, as esperanças infantis e as vivências dos que se encontram sós, o Natal se revela como um espelho das diferenças sociais e das emoções humanas: complexas, contraditórias e viscerais.

Edmir Saint-Clair

AS NOVAS TERAPIAS MENTAIS

 

Não sou médico, nem psicólogo. Sou paciente, ou melhor, cliente, que é como alguns psicólogos se dirigem, atualmente, a seus “pacientes”. 

Já havia feito terapia, a última há uns 18 anos. Nos 15 anos anteriores, havia passado por diversos terapeutas, de diversas correntes.
Foram várias tentativas, vários terapeutas.
 Na minha avaliação de paciente, não consegui nenhum avanço que não fosse conseqüência da simples passagem do tempo.
Minha descrença nas terapias cresceu até se tornar total. Nunca havia visto ninguém que tivesse “melhorado” por ter feito terapia.

A reviravolta veio através de uma pessoa muito próxima; minha irmã. Uma neuro-psicóloga extremamente estudiosa, inteligente e competente.
Ela me contou que as terapias evoluíram e sua eficácia aumentou numa progressão geométrica, graças às novas técnicas de exames por imagens do funcionamento cerebral em tempo real.  As pesquisas possíveis a partir dessa nova tecnologia significou um passo gigantesco para o novo ramo de estudos que surgiu a partir desse advento; a neuropsicologia.

Atualmente, o BrainspotingEMDR e outras técnicas são capazes de identificar entraves e reprogramar sinapses.

Minha irmã me indicou uma neuropsicóloga da mesma linha que ela, com quem marquei uma sessão.
Já na primeira consulta, ela (que utiliza aquelas técnicas)  focou diretamente em estabelecermos os motivos objetivos e atuais que me levavam a ela.
Em 2 meses dessa terapia, sem contar a entrevista inicial, já havia percebido mudanças pelas quais nunca havia conseguido passar nem perto naquelas décadas de tentativas.
O mantra proposto pela minha terapeuta é:
- Seu cérebro está se curando.
E a gente sente que está. E, não volta mais ao estado anterior. E, quando volta, tem recursos para sair. E começa a voltar cada vez menos para lugares desconfortáveis da mente.

É algo emocionante de viver e de sentir. 
É emocionante perceber que já estamos num estágio de evolução tecnológica que nos permite usufruir, na prática, dessas maravilhas que a mente humana descobriu e desenvolveu para cuidar de si própria.

“Seu cérebro está tentando se curar o tempo todo,
deixe-o fazer isso”...

Edmir Saint-Clair
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CIVILIZAÇÕES TERRÁQUEAS AVANÇADAS PODEM TER EXISTIDO HÁ MILHÕES DE ANOS?

Supõe-se que nosso planeta tem 4,54 BILHÕES de anos.

Teorias nos contam que a vida surgiu há 600 Milhões de anos.

 Se assumirmos que cada ciclo civilizacional tecnologicamente avançado poderia durar 10 mil anos — aproximadamente o tempo da civilização humana atual — e que cada ciclo fosse seguido por um colapso e um período de recuperação de 50 mil anos, poderíamos teorizar sobre 33 ciclos em um período de 2 milhões de anos.

 Essa especulação é baseada na suposição de que:

 - Civilizações podem emergir rapidamente (em termos geológicos) com o desenvolvimento de tecnologias.

 - Colapsos podem ser causados por desastres naturais, guerras ou outras catástrofes.

 - O registro geológico dessas civilizações seria altamente efêmera.

 Embora não existam evidências científicas que comprovem a existência de civilizações tecnologicamente avançadas há milhões de anos, a ideia provoca reflexões profundas sobre nossa compreensão limitada do passado remoto. O tempo geológico é vasto, e o curto período da existência humana sugere que civilizações poderiam ter surgido e desaparecido sem deixar rastros perceptíveis pelo nosso atual estágio tecnológico. Especulações como essas desafiam a imaginação e ressaltam a fragilidade da nossa própria presença no planeta.

 Levando em conta o Paradoxo de Fermi sobre a possibilidade da existência de vida interestelar, arrisco a dizer que a possibilidade da vida recrudescer aonde já exista é milhões de vezes maior do que do fenômeno de surgimento dela. Daí a viabilidade, graças a sua resiliência intrínseca, da vida conseguir se restabelecer, mesmo depois de quase extinta, não se torna tão absurda quanto possa parecer a princípio.

Luciano Villar

UMA NOVA LISTA DE ANO NOVO

Dezembro, o mês mais emocional do ano.  

Parece a chegada de uma gigantesca maratona da qual toda a população participou. A sensação coletiva é de exaustão, de enorme cansaço físico e emocional. Para onde olharmos, veremos a mesma coisa. Uma mistura confusa de afetos e sensações contagiantes que nos coloca, a todos, num mesmo e imenso barco onde juntos navegamos por águas sentimentais que provocam uma fragilização emocional coletiva alimentada freneticamente pelas mídias e toda sorte de propagandas, músicas e decorações natalinas onipresentes até onde a vista e os ouvidos podem alcançar. Não tem como fugir.

Faz parte da nossa cultura essa “emocionalização” potencializada pelas festas natalinas e pelo final do ano. Em suas origens, havia um apelo religioso que, por conseguinte, conduzia as pessoas à reflexão típica da cultura judaico-cristã, que sempre leva todos os "pecadores" a um certo grau de sentimentos de tristeza e culpa. A tradição é pensar em nossos erros, frustrações e ausências.

Mesmo que não tenhamos feito lista alguma de resoluções e planos para o ano novo, o que nos vem à lembrança é uma relação de coisas que pretendíamos ter realizado e não o fizemos. A data que, hoje, tem pouco de suas origens religiosas, foi engolida pelo Marketing que aproveitou essa “emocionalidade” exacerbada, potencializando-a ainda mais, através das ações de publicidade, fazendo transbordar essas emoções de frustração e culpa que são habilmente canalizadas para o aumento do consumo de bens.

Quanto mais o envolvimento, a emoção e a culpa forem despertadas, mais cada um de nós vai gastar dinheiro.

Ao refletir sobre esse movimento anual, me parece que valeria a pena experimentar uma forma de, ao chegarmos ao final do ano, em vez de pensarmos nas besteiras e bobagens que fizemos ou deixamos de fazer, como em todos os anos passados, pudéssemos reconhecer nossos acertos e mudanças positivas.

 Pensando numa maneira leve e produtiva de alcançar esse objetivo, podemos brincar de fazer durante o ano seguinte, uma lista que pode mudar completamente essa sensação desconfortável que a “tristeza de fim de ano” provoca na maioria de nós.

E Se, em vez dos afetos negativos, no próximo ano tenhamos uma relação de afetos positivos para recordarmos?

Pensando nisso, proponho AMA NOVA lista de ano novo.

A diferença, é que não será uma lista de planos e metas sobre entrar na academia segunda-feira, começar um regime ou aprender um novo idioma.

Será uma lista de realizações e não uma lista de desejos.

A nova lista será feita não antes, mas durante o desenrolar do novo ano.

Uma brincadeira diária de registrar nossos eventos rotineiros, mas só as ações que foram efetivamente realizadas, que aconteceram de verdade. Porque de boas intenções o inferno já nos enche diariamente.

E o objetivo maior é aumentar o autoconhecimento de forma leve e nos dar reais motivos para acreditarmos em nós mesmos.

A NOVA lista de ano novo:

1 - Anote tudo que acontecer de bom com você, todos os dias. Por mínimas que sejam.

2 - Registre todas as manifestações culturais as quais tiver acesso e as suas impressões sobre o que sentiu. Seja Um artista de rua, um cantor desconhecido no barzinho, filmes, peças de teatro...e claro, as grandes produções que assistir.

3 - Registre todas as vezes em que perceber um traço em si que não lhe agrada. Escrever potencializa a introjeção e induz a reflexão sem culpa. Na primeira oportunidade tente fazer diferente e anote com destaque quando conseguir.

4 - Anote todas as vezes que conseguir se conter e evitar uma briga na qual, normalmente, você se envolveria.

5 - Anote todas as vezes em que conseguir trocar a competitividade pelo companheirismo.

6 - Registre as vezes em que estiver sozinho e sentir uma sensação gostosa de alegria e bem-estar.

7 - Anote, com destaque, todas as vezes em que conseguir AGIR exatamente como você gostaria.

 Dessa forma simples e acessível a qualquer pessoa, no final do ano seguinte, teremos inaugurado um caminho totalmente novo, através do autoconhecimento, para nos orgulharmos de nós mesmos por motivos concretos e determinantes. 

E estaremos alimentando a crença mais importante e positiva que existe: a crença de cada um em si e de que, todos, temos o poder de modificar a nós mesmos.

FELIZ 2025!




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