ORIENTADOR LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. - - - - -- UM PROFISSIONAL EXPERIENTE, especializado em redação criativa, capaz de despertar toda a sua criatividade potencial escondida.

ALÉM DA CIÊNCIA

 

Envolver, envolver-se, ser envolvido,

Misturar-se, fazer parte, somar-se, dividir-se,

Nada mais abstrato que romper os limites do ser

Impossível dirá a ciência,

Mas não a sapiência que isso pode envolver

E nos envolver por vontade nossa de envolver-se

Nos mais abstratos mistérios do ser

Para ser fantástico tem que ser abstrato,

O mundano é banal demais,

Para a importância que a vida tem,

Tem que ter sapiência para se tornar mistério,

Por isso, me envolvo, envolvo e sou envolvido,

E me diluo em tudo.

Além da ciência,

Sou tudo e nada ao mesmo tempo.

Até o que não sei.

NATAL: SÃO TANTAS EMOÇÕES

 

O Natal é, sem dúvida, uma das épocas mais marcantes do ano, carregada de simbolismos, tradições e, sobretudo, de emoções intensas. O apelo religioso, romântico e sentimental que permeia essa data é amplificado pelas estratégias de marketing e comunicação, que se esforçam para criar um clima de magia e esperança para canalizar toda essa energia para o consumo. Contudo, esse mesmo clima pode despertar sentimentos contrastantes, dependendo de quem o vivencia e das circunstâncias pessoais de cada um.

Um dos aspectos mais evidentes do Natal é o papel das propagandas e dos comércios na construção de um imaginário coletivo. Anúncios televisivos e vitrines iluminadas convidam as pessoas a embarcar em uma experiência de consumo que, se mistura com o desejo de vivenciar momentos perfeitos. A aquisição de produtos/presentes é estimulada como o caminho para reforçar laços familiares e sociais, e também carrega a promessa de felicidade e sentimento de pertencimento. A mensagem é que os sentimentos devem virar presentes para que a magia da felicidade instantânea aconteça. Chega a ser cruel.

Nesse contexto, é inevitável que sentimentos como ansiedade e frustração também aflorem, especialmente para aqueles que não dispõem de recursos financeiros para atender às expectativas criadas.

Para as crianças, o Natal é sinônimo de encantamento. Contudo, as expectativas infantis também mudaram significativamente nas últimas décadas. Há cinquenta anos, o simples ato de decorar uma árvore, esperar pelo Papai Noel e compartilhar uma ceia em família eram suficientes para preencher os corações da garotada. Num mundo hiperconectado e tecnologicamente sofisticado, as crianças são presas muito frágeis quando expostas a uma infinidade de desejos estimulados por campanhas publicitárias e influenciadores digitais. Esse cenário não apenas eleva as expectativas, mas também pode gerar desilusão quando essas não são atendidas. E, a verdade, é que a maioria não é atendida. O mais triste dessa história natalina é que, exatamente pela importância dada por toda a sociedade a essa data, ela termina por causar marcas profundas e indeléveis que irão acompanhar a criança pela vida. Sejam boas ou más.

O Natal também pode ser um período de melancolia para aqueles que enfrentam a solidão. A época é um lembrete constante de laços familiares e amorosos que foram rompidos ou fragmentados.

Em síntese, entre o consumo incentivado pelas propagandas, as esperanças infantis e as vivências dos que se encontram sós, o Natal se revela como um espelho das diferenças sociais e das emoções humanas: complexas, contraditórias e viscerais.

Edmir Saint-Clair

SAINDO DA DEPRESSÃO


De repente, ele se deu conta que as coisas começavam a entrar num sincronismo que há muito não existia. Pequenos detalhes se encaixando no momento certo.

O sabonete, que acabava no meio do banho, agora tem outro novinho à mão. A toalha, que ele não se esquecera de pegar, a mesma que só se lembrava de não tê-la pego quando estava fechando o chuveiro. O banho, que sempre lhe trouxe bem estar, ainda mais no verão carioca. A depressão havia lhe tirado todos os prazeres, até o da higiene.

De repente, o encadeamento dos eventos rotineiros parecia entrar em sintonia, um acontecimento não atrapalha mais o outro, agora, todos parecem se complementar.  Ele começou a perceber um aumento na capacidade de tomar pequenas decisões, como a que o fez comprar o sabonete antes que o outro acabasse, como era comum acontecer. A depressão lhe tirara a capacidade de decidir sobre tudo e qualquer coisa.

Seu cérebro estava se curando, buscando a estabilidade, a homeostase, se consertando.

Ele sabe que se não atrapalhar seu cérebro, tudo vai continuar a entrar, cada vez mais, em sintonia.

Sintonia com o quê ou quem?  Consigo mesmo. Com a sensação de se bastar, de não precisar de nada além da água caindo sobre seu corpo para ter aquela sensação de plenitude que sentia naquele agora.

Percebeu que estava fora do inferno. Um profundo alívio, do qual sobreveio uma leveza indescritível.  Perdeu o sentido de urgência, a ansiedade se dissipou.

Não foi mágica, foi ajuda, pedira socorro. Sozinho, teria morrido. Foi terapia, foi neuropsicologia. Foi a ciência que ajudou seu cérebro a se curar, deixando-o ser maravilhosamente fantástico como o de todos os seres humanos, permitindo que se reprocessasse e arrumasse toda a bagunça. A ciência fora capaz de lhe curar, intercedendo, efetivamente, na desensibilização e reprocessamento de traumas que lhe afetavam muito mais do que supunha sua vã filosofia.

Até aquele momento, ele não acreditava que sairia daquele mundo de horror chamado depressão. Ninguém que esteja passando por ela acredita que possa vencê-la, faz parte da doença.

Naquele momento, a água, o sabonete e a toalha lhe mostraram que ele estava de volta à vida.

Sobrevivera.

– Edmir Saint-Clair

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