
O
Natal é, sem dúvida, uma das épocas mais marcantes do ano, carregada de
simbolismos, tradições e, sobretudo, de emoções intensas. O apelo religioso, romântico
e sentimental que permeia essa data é amplificado pelas estratégias de
marketing e comunicação, que se esforçam para criar um clima de magia e
esperança para canalizar toda essa energia para o consumo. Contudo, esse mesmo
clima pode despertar sentimentos contrastantes, dependendo de quem o vivencia e
das circunstâncias pessoais de cada um.
Um
dos aspectos mais evidentes do Natal é o papel das propagandas e dos comércios
na construção de um imaginário coletivo. Anúncios televisivos e vitrines
iluminadas convidam as pessoas a embarcar em uma experiência de consumo que, se
mistura com o desejo de vivenciar momentos perfeitos. A aquisição de produtos/presentes
é estimulada como o caminho para reforçar laços familiares e sociais, e também
carrega a promessa de felicidade e sentimento de pertencimento. A mensagem é
que os sentimentos devem virar presentes para que a magia da felicidade
instantânea aconteça. Chega a ser cruel.
Nesse
contexto, é inevitável que sentimentos como ansiedade e frustração também aflorem,
especialmente para aqueles que não dispõem de recursos financeiros para atender
às expectativas criadas.
Para
as crianças, o Natal é sinônimo de encantamento. Contudo, as expectativas
infantis também mudaram significativamente nas últimas décadas. Há cinquenta
anos, o simples ato de decorar uma árvore, esperar pelo Papai Noel e
compartilhar uma ceia em família eram suficientes para preencher os corações da
garotada. Num mundo hiperconectado e tecnologicamente sofisticado, as crianças
são presas muito frágeis quando expostas a uma infinidade de desejos
estimulados por campanhas publicitárias e influenciadores digitais. Esse
cenário não apenas eleva as expectativas, mas também pode gerar desilusão
quando essas não são atendidas. E, a verdade, é que a maioria não é atendida. O
mais triste dessa história natalina é que, exatamente pela importância dada por
toda a sociedade a essa data, ela termina por causar marcas profundas e
indeléveis que irão acompanhar a criança pela vida. Sejam boas ou más.
O
Natal também pode ser um período de melancolia para aqueles que enfrentam a
solidão. A época é um lembrete constante de laços familiares e amorosos que
foram rompidos ou fragmentados.
Em
síntese, entre o consumo incentivado pelas propagandas, as esperanças infantis
e as vivências dos que se encontram sós, o Natal se revela como um espelho das diferenças
sociais e das emoções humanas: complexas, contraditórias e viscerais.
Edmir Saint-Clair