O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.
Uma relação leve e espontânea
parecia estar surgindo e Clara não queria acelerar aquela evolução que acontecia tão naturalmente.
Era gostoso e divertido toda vez
que se encontravam, o que estava se tornando
mais frequente.
Ela adora a liberdade que a solteirice
lhe proporciona.
Já fizera a felicidade dos pais,
da família, das amigas e a sua própria, realizando o casamento que todos
esperavam, inclusive ela mesma.
Agora, sentia-se livre.
A separação foi sem sobressaltos
e bem menos tristeza do que ela imaginava.
De lá pra cá, pequenos namoros
sazonais a satisfaziam plenamente, acordar ao lado de alguém tornara-se tão
raro quanto indesejado, fazendo com que ela percebesse que novos sentimentos
estavam nascendo naquele momento, depois de um delicioso café da manhã servido
na cama.
Clara deu-se conta que só
conseguia sorver plenamente aquele momento, com a leveza da alma que acorda já
descobrindo-se desperta, exatamente pela raridade da ocasião, por uma conjunção
do improvável com o aleatório;
... um daqueles momentos que
redimem a vida e justificam o caos.
Quando nada se espera e tudo
acontece.
O momento onde o nosso desejo se
encontra consigo e se realiza com a cumplicidade de alguém especial, numa
comunhão harmônica... natural e espontânea.
É preciso aprender a se deixar
levar pela alegria de experimentar a vida dando certo e acertando em cheio.
É preciso saber se sentir feliz,
no momento em que a felicidade está acontecendo.
E gravar, o mais profundamente
possível, cada um desses raros momentos, no infinito da nossa alma eterna
.
Enquanto cresce, o filho de um
narcisista não sabe que seus pais são narcisistas, os ama e depende do que eles
lhe dizem sobre ele mesmo para construir o mundo em que vai acreditar e viver.
Todos os seres humanos sofrem.
Mas, os filhos de narcisistas
sofrem mais, porque sofrem sozinhos e enganados por quem mais deveria amá-los. São
aqueles enganados pelos próprios pais e, por toda a sociedade na qual vivem,
que lhe dizem, todos os dias, que os pais são sagrados e querem sempre o melhor
para seus filhos.
E quando alguém percebe que nada
disso foi verdade em sua vida, quando um ser humano percebe que foi manipulado
por quem mais amava e confiava, se Vê numa queda violenta num nada... sem
fundo.
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Lembro bem que estávamos
andando pela avenida para que você espairecêsse e pudesse desabafar comigo,
como fizera a vida inteira, segura de que seria acolhida como sempre. Falar mal
do meu pai para mim era seguro para você, eu nunca falaria nada sobre o
assunto. Você tinha certeza disso. Ao final de sua narrativa ofensiva, respondi
de pronto como o cão de Pavlov treinado desde que nasceu, com um complemento
que reforçava seu relato, dando-lhe ainda mais impacto e dramaticidade que não
cabiam naquela crítica superficial:
- Você diz que ele age como
“quem gosta de chutar cachorro morto”, disse eu como o cão treinado reagindo à
sineta. No que ela respondeu:
- Frase interessante, nunca
tinha ouvido.
Lembro que a frase a
impactou.
Anos depois, a vida me
mostrou com todas as suas tintas mais carregadas quem realmente gostava de
chutar cachorro morto. E, não se tratava de má interpretação ou qualquer outro
equívoco de julgamento, que uma dúzia de eventos ou várias dezenas de anos,
podem provocar.
Quando olhei para trás, para a
vida inteira, vi que os eventos eram milhares e todos acontecidos na minha
frente.
Como eu nunca percebi? Como
pode alguém ser tão tapado em todos os seus próprios sentidos? Como é possível
alguém ter sido treinado para jamais acreditar sequer no que presencia?
Infelizmente, só percebi após
toda uma vida, e da pior maneira possível, quem realmente gostava de chutar
cachorro morto: era minha mãe.