Pensar também tem níveis de qualidade. Existem pensamentos ótimos e outros péssimos. Todos nós os temos de todos os tipos.
Assim como o ato de comer,
nem sempre pensar mais significa pensar bem. Assim como comer, pensar bem seria
pensar o necessário e somente o necessário, pressupondo que pudéssemos
determinar o exato momento de parar de pensar sobre determinado assunto
chiclete.
Sabemos que isso não acontece.
Sempre que um assunto se entranha em nossa mente a tendência é que não
consigamos desviar a atenção até estarmos fatigados mentalmente e,
consequentemente, incapazes de decidirmos sobre qualquer coisa. E, quanto mais
relacionado ao aspecto emocional, mais nos empanturramos neuroticamente daquele
assunto. Chegamos a ter ressaca moral, como se fosse uma indigestão mental por excesso de pensamentos. Algo como enfiar o pé na jaca da neurose.
Estudiosos da mente humana
tem publicado cada vez mais sobre esse tema: o excesso de pensamentos e seus
malefícios.
Não sou especialista no
assunto, apenas um curioso e ativo utilizador da minha própria mente, além de
me utilizar, também, das brilhantes mentes que me socorrem através dos livros e
textos que nos deixaram. Pelo menos como veterano utilizador de um cérebro,
tenho algum conhecimento empírico agregado ao conhecimento adquirido por
impulsos da saudável curiosidade.
O bom desse tempo todo de
vida, é que os assuntos começam a se cruzar. Coisas que antes pareciam tão
díspares, com o tempo passam a fazer parte de um mesmo enredo.
Uma das coisas que mais
gosto na passagem dos anos, é testemunhar a forma como os eventos, lugares e pessoas
se entremeiam no enredo de nossas vidas. A forma imprevisível dos
acontecimentos é o que nos faz não morrer de tédio. A forma como lidamos com
esses imprevistos e a rapidez com que os aceitamos determinam muito de nossa
capacidade de vivenciar o que chamamos de felicidade, essa espécie de orgasmo
existencial, que sem dúvida nenhuma existe. Geralmente, por apenas um pouco
mais do tempo de um orgasmo.
O Viver tenso, sempre vigilante, ansioso, o viver inseguro das cidades grandes, diariamente preocupado...a sensação eterna de corda apertando o pescoço. Se as tensões cotidianas já são, por si só, insuportáveis, a potencialização que um cérebro fatigado e desorientado produz causam é sombriamente imprevisível.
O ser humano aguenta fazer isso apenas por um determinado período de tempo, depois se cansa, se esgota e se deprime. E, ás vezes, nunca mais recupera a capacidade da vida plena.
Muitas vezes, passa-se uma
vida inteira sem perceber o quê e muito menos por que a vida aconteceu como
aconteceu. O mais triste dessa história é que, na maioria das vezes, não aconteceu
como gostaríamos. E, não é por falta de pensar, de tentar resolver, entender
e fazer de tudo para melhorar, achando que saturar o cérebro com pensamentos é o caminho. Via de regra ocorre exatamente o oposto, quanto mais nos esgotamos em pensamentos sem qualidade e sem rumo, mais desorientados e doentes nos sentimos. E, menos capazes ainda de resolver satisfatoriamente nossos problemas.
A quantidade de tempo que
despendemos pensando não garante a qualidade daquele pensamento. Qualidade no
sentido de solucionar de alguma forma aquela agonia a qual damos o nome genérico
de problema. Para pensarmos com qualidade só existe um caminho: abastecer nossa
mente com informações de qualidade.
Através do Google e com um pouco de vontade de melhorar, podemos ter
acesso ao que grandes pensadores, que sabiam pensar com qualidade, sugerem como caminhos
para as soluções das agonias, que são comuns a todos nós humanos. É o único
atalho que existe!
Graças a tecnologias
desenvolvidas nas últimas décadas, que possibilitaram avanços admiráveis e
surpreendentes no conhecimento dos processos e funcionamento do cérebro, a
melhor coisa que podemos fazer em benefício da nossa mente e deixar nosso
próprio cérebro se curar, num processo chamado homeostase, que é a capacidade
dos organismos buscarem o próprio equilíbrio, de tal forma que lhes possibilite as melhores
condições de funcionamento, leia-se de vida. Nosso cérebro, assim como todo
nosso organismo, é programado geneticamente para fazer isso, é só deixarmos ele
fazer.
Ou seja, se aprendermos a
parar de pensar excessiva e neuroticamente em tudo que nos rodeia e
simplesmente deixarmos nosso cérebro se curar, ele o fará. Cada um tem que
desenvolver um método próprio de defesa contra o excesso de informações e
estímulos aos quais somos submetidos.
A milenar sabedoria oriental
tem ciência disso há tempos, tendo desenvolvido um método extremamente eficaz
de deixarmos nosso cérebro descansar e se recuperar em paz: a meditação.
Uma corrente de estudos sustenta que a misteriosa e mágica intuição é uma "resposta natural de um cérebro sadio à uma demanda específica", e que não se define satisfatoriamente através de palavras.
Nosso pior inimigo não são os outros. Somos nós mesmos.
A gente complica tudo e muito.
Edmir Saint-Clair
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