Primeira manhã, férias novinhas, zero quilômetro, toda
equipada com réveillon, verão e um monte de surpresas que, espero, aconteçam.
Chego à conclusão de que, sem dúvida, o verdadeiro fruto do
trabalho são as férias.
Uma vadiagem remunerada, sem culpa, admirada e almejada por
todos. Sinto que o cérebro está em festa, sinto-me muito animado.
Vem-me à memória uma frase que não sei de quem é, mas que me representa perfeitamente nesse momento: “Com o coração em festa e a alma a gargalhar”.
Sou o retrato dela nesse momento, num doce balanço a caminho
do mar.
O sinal de trânsito demora a abrir, atrasando meu percurso
ainda mais ansioso por já estar visualizando a praia.
Tudo bem, o sinal pode demorar o quanto quiser, estou de
férias e o tempo é todo meu.
Não é à toa que, quando os médicos não sabem mais o que
fazer por um paciente surtado por causa do stress diário, receitam férias.
Até hoje, a ciência farmacológica não descobriu nenhum
remédio melhor. Nem homeopatia, nem shiatsu, nem Rivotril, nem cloroquina; nada
substitui as boas e velhas Férias tradicionais.
Deveriam testar uma psicanálise praiana, feita debaixo da
barraca de praia e tomando água de coco... quem sabe dá certo? Quem sabe o
psicanalista resolve falar alguma coisa e sair daquele silêncio inútil e
misterioso?
O melhor dia das férias é o primeiro. Tudo ainda está por acontecer, cabe tudo.
Ainda não existe tempo passado para já haver frustração, só
há futuro, só expectativas boas, todas as possibilidades são viáveis.
Quando piso na areia, fico surpreso comigo mesmo, depois de
um período de afastamento da frequência na praia, provocado por essa coisa
chamada trabalho, seria natural, e de se esperar, um certo período de
readaptação a malemolência praiana.
Mas, surpreendentemente, já no primeiro minuto sinto-me
totalmente à vontade e com a desenvoltura de sempre.
A praia do Leblon é, literalmente, a minha praia.
A textura da areia, nem muito fina nem muito grossa, é
perfeita. A textura da areia das praias dessa orla, do final do Leblon até o
Leme, tem uma consistência única. A areia de cada praia do mundo é como uma
impressão digital, é exclusiva daquela praia específica.
A areia encontrada em
uma determinada praia é criada pela erosão das rochas em seu entorno. Ou seja,
não existe areia igual ao da praia do Leblon e Ipanema, que na realidade são
uma só, dividida apenas pelo canal do Jardim de Allah, bem no meio.
Numa rápida passagem de olhos, analiso as condições de vento, do mar e a melhor posição para minha cadeira de praia. Isso tudo exige uma certa ciência, não é para qualquer um, tem que ser da terra, tem que ser minhoco, que é o marido da minhoca, natural da terra.
A praia do Leblon, às terças-feiras de um dia qualquer, é
meu paraíso particular. Tem cheiro de férias desde que me entendo por gente.
O mesmo cheiro, a mesma praia, que sempre me fazem ter uma
sensação de colo de mãe, ao som do mar que me acalenta. Um carinho da vida, com
direito a beijo da brisa suave que sopra, enquanto o vendedor de mate e
biscoito Globo, que me vende fiado, enche meu copo de vida. Esse é meu lugar
especial no mundo.
Agora me desculpem, com licença porque estou de férias e já
escrevi muito.
Tenho mais o que não fazer.