“Alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias.” Carl Sagan
E se
não formos diretamente responsáveis por nossas ações, como sempre nos foi
ensinado?
E se a
fisiologia do cérebro é que nos comanda e não nossa consciência?
E se a
consciência e o livre arbítrio não passarem de uma enorme ilusão?
As
questões são muitas, profundas e extraordinárias.
As
pesquisas e estudos neurocientíficos apontam fortemente no sentido de que cada
um de nós só é capaz de ter as atitudes e comportamentos que já estão
previamente “programados”, como resultado da herança genética e do histórico de
experiências anteriores que nos moldaram.
As diversas e sucessivas experiências pessoais
vão se acumulando como camadas e se combinando continuamente, gerando, através
da interação entre elas, e com a predisposição genética, as sinapses
responsáveis por nossos comportamentos, pensamentos e atitudes.
A
decisão e a atitude que você tem numa determinada circunstância, não tem nada
de arbitrária e muito menos de livre. Ela já estava decidida muito antes de
acontecer.
Diante daquele gatilho, aquele indivíduo só
poderia ter a atitude que teve, ele não tinha nenhuma escolha racional possível.
Nós não temos esse poder que imaginamos ter.
Na
verdade, a decisão e a atitude tomadas eram as únicas que você poderia ter, com
base naquelas experiências anteriores que formaram aquelas sinapses, e que
foram reativadas por ocasião daquela ocorrência que agiu como gatilho.
Simplesmente,
não tivemos e não temos escolhas a fazer. Não temos esse enorme poder que,
sempre, durante toda a história da humanidade, imaginamos ter. Nunca o tivemos.
E, sem
o livre-arbítrio como ficam as leis?
Como
punir quem não é responsável pelos próprios atos?
Em
todos os sistemas legais do mundo, aqueles indivíduos comprovadamente incapazes
de decidir sobre seus próprios comportamentos, por motivos de saúde mental ou
qualquer outro que o prive de suas “faculdades mentais”. é considerado
inimputável, ou seja, não pode ser responsabilizado por seus crimes.
E se,
ninguém dispor dessa capacidade de decisão sobre seus próprios atos, como
sempre imaginamos,como ficarão as leis?
Como ficará a vida em sociedade?
As implicações
são tão profundas que me arrisco a afirmar que todos, sem exceção alguma, todos
os conceitos, preceitos e certezas que servem de base para a civilização
humana, terão que ser profundamente reavaliadas e modificadas diante das
evidências científicas apresentadas.
Descobertas profundas exigem mudanças igualmente profundas.
Tudo
terá que ser revisto. Absolutamente Tudo.
Dentro
desse Tudo, isso pode significar, também, que o conceito mitológico da palavra
Destino seria restaurado como sendo algo real e sob o qual o indivíduo é apenas
um agente passivo.
Esse
tudo é tão abrangente que nem nos é possível imaginar toda a sua abrangência.
Quem
sabe não é exatamente esse o sentido da vida?
Conseguirmos
transpor as barreiras do mundo animal, no qual somos guiados pelos instintos
básicos, como o medo, a agressividade e o egoísmo desenfreado, até conseguirmos
construir um novo mundo onde sejamos, finalmente, seres que conseguiram
transcender e evoluir.
Não
sei o que acontecerá, mas será lindo se um dia conseguirmos vencer a nós
mesmos.
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