O almoço com o amigo o deixara mais animado. Era a primeira vez que saía de casa depois da volta do hospital. Foram caminhando até a porta do prédio onde Daniel iria ter sua primeira sessão de psicanálise após a crise de pânico que o levara a ser internado.
Enquanto
esperava ser chamado pelo psicanalista, Daniel ficou olhando aquela antessala escura,
com móveis sem personalidade alguma e reproduções de obras surrealistas. A má
impressão inicial deu lugar a uma simpatia imediata assim que o Dr. Luciano o
recebeu. A sessão correu melhor do que esperava e, ao sair, ele tinha certeza
de ter encontrado o profissional certo para tratá-lo.
Quando
saiu do prédio onde fica o consultório, a Av. N.S. de Copacabana estava fervilhando.
O burburinho de pessoas, carros, ônibus, transeuntes e camelôs era enervante.
Ele se
sentia profundamente triste e tudo o irritava de forma doentia. Caminhou até a
praia, onde havia estacionado o carro, e diante do trânsito de 6 horas da tarde
na Av. Atlântica, resolveu ver o pôr do sol na praia. Só então, percebeu que
não havia sequer pensado em ligar para o escritório, isto o fez sentir-se menos
neurótico. Caminhou até o arpoador e sentou-se na ponta da pedra que mais
avança sobre o mar. A brisa sopra fraca e gostosa, e o barulho das ondas nas
pedras é acolhedor. Estava deprimido como já era de costume, mas, pelo menos
dessa vez, estava com vontade de não estar.
O sol, as cores, as ilhas, a praia, tudo em
seu lugar. Fechou os olhos para que o barulho das ondas se acentuasse e com os
olhos fechados reproduziu a paisagem em sua mente, começou a repetir a
brincadeira. A brisa e o barulho, ele sentia mais intensamente de olhos
fechados, e tentava reproduzir exatamente a paisagem que estava vendo. Em
seguida, abria os olhos para checar a semelhança com a imagem real. A primeira
coisa que reparou é que na paisagem real as cores tinham mais brilho. Tudo
tinha mais brilho. Fechou os olhos novamente, e o brilho continuava fraco, por
mais que se esforçasse não conseguia reproduzir o brilho real em sua mente.
Numa das várias vezes em que fechou os olhos, percebeu uma presença muito próxima,
e ouviu claramente uma voz dizer:
Ele abriu os olhos rapidamente e
procurou em volta, sem ver ninguém que estivesse a uma distância plausível de
poder falar-lhe ao ouvido e se afastar com tanta rapidez. Muito esquisito. Ele tinha certeza e ainda
tinha, com clareza, a lembrança do som da voz que ouvira.
Daniel
não sabia, mas a mudança estava apenas começando.
Haveria
outros sinais.
(Continua...)
Edmir Saint-Clair
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