ORIENTADOR LITERÁRIO

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UM NATAL INESQUECÍVEL

 

           Há alguns anos não festejava o Natal na minha casa encantada, o apartamento 1004 do Amarelo, no Condomínio dos Jornalistas, no Leblon. Apesar de morar no Rio, sempre passava as festas com a família, em Brasília. Naquele ano não fui.

No dia 24 de dezembro, acordei angustiado, era a primeira vez que não sentia a agitação característica desse dia especial acontecendo na casa dos meus pais. A árvore de natal armada na sala com direito a pisca-pisca ligado dia e noite. Esse ano a luzes não estavam piscando nem tinha árvore e eu senti falta. Eu já me achava adulto, mas, com certeza ainda não era. Aquele dia estava sendo uma experiência totalmente nova para mim. Um dia como eu nunca havia vivido antes.

     Para suprir aquela inquietude, resolvi chamar uma galera para levar um som lá em casa, depois das comemorações natalinas familiares. O combinado foi começar por volta de uma hora da manhã.

Desde cedo, a agitação no meu andar começou, como sempre, com as portas abertas dos apartamentos da Dona Letícia e da Dona Élida, exalando cheiros deliciosos de assados e outros quitutes. Logo que saí no corredor fui intimado a comparecer às duas ceias, que, no meio da noite, se fundiam numa só. Prometi que não faltaria, seria a primeira parada depois da ceia na casa da Dona Lila, mãe do Dedé, que já havia me convidado desde que soubera que eu passaria sozinho.

O transcorrer da véspera de Natal no Condomínio dos Jornalistas era uma festa desde que o dia nascia.

Chegavam pessoas de todos os cantos para os encontros familiares. Pessoas que, normalmente, não frequentavam as áreas comuns o faziam nesse dia, e o clima de festa se instalava.

O bar do Seu Antônio e da Dona Maria ficava lotado. Seu Joaquim não parava um minuto no sobe e desce pelos apartamentos do condomínio, abastecendo-os de cerveja e refrigerantes. Até o forno industrial do bar era cedido, gratuitamente, para alguns moradores e ficava lotado de assados.

 Era possível sentir no ar a harmonia que reinava.

 Minhas lembranças são de uma comunhão geral. Não havia quem passasse e não fosse recebido com um Feliz Natal, ao qual sempre retribuía contagiado pelo mesmo entusiasmo. Era dia de desejar felicidades a qualquer pessoa que entrasse no Jornalistas.  

A sensação era de que os corações floresciam. Em nenhum outro dia do ano havia tantos sorrisos.

Passar na casa dos amigos para as felicitações era uma tradição do Jorna e, naquela noite, a comilança foi interminável. Voltei para a minha casa, completamente empanturrado das melhores comidas de Natal que se pode imaginar. Fiz um tour gastronômico por todos os pratos típicos da culinária brasileira. Acho que foi naquele dia que comecei a ter barriga...

Apesar da saudade, naquele primeiro Natal que passei sem minha família, várias outras mães, pais e irmãos me acolheram. Não me senti sozinho um minuto sequer nem naquele dia, nem naquela noite.

Passadas as comemorações familiares, era hora da festa na minha casa encantada, o 1004. O primeiro a chegar foi o Dedé com um digestivo salvador. Logo vieram Abelha, Bode, Mito, Marquinho e a violada começou cada um no seu instrumento e eu com o lendário violão do Sig.

Não demorou para que os astros da noite também chegassem: Babalu, Kássio, Mário Japão, Cláudio Urubu e o Tuca. E foram chegando mais amigos e amigas e mais amigos de amigos e mais amigas de amigas e gente que eu nunca tinha visto antes. Porque era natal.

Fechamos a noite todos cantando e tocando juntos, acompanhando nosso amigo Cláudio Urubu em sua música mais bonita, em parceria com Raul Seixas, declarando ao mundo que íamos todos “... ficar com certeza Malucos Beleza”.

Acho que ficamos.

Edmir Saint-Clair

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