Na minha época de colégio não havia nada mais apavorante do que o professor pedir silêncio, logo no início da aula, e vaticinar:
— Guardem os livros e cadernos e deixem apenas uma folha em branco e a caneta sobre a carteira.
Aquela frase fazia gelar a alma do mais estudioso dos alunos. Imagine dos outros...
E a
turma passava os 50 minutos seguintes em absoluto silêncio, todos concentrados naquele
teste. A tensão na sala era enorme e, dependendo da severidade e atenção do
professor da matéria, colar era o último recurso pelo alto risco que
representava. Além disso, os mais aplicados geralmente se negavam a assumir
aquele risco. E colar de quem sabia menos do que você, era dobrar a
possibilidade de errar.
Lembro, com saudades, de quando achávamos que aquelas provas relâmpagos eram o grande problema das nossas vidas.
Mal
sabíamos, que dali pra frente os testes relâmpagos fariam parte do nosso
cotidiano.
A todo
momento, elas aparecem das mais variadas formas e situações e temos de estar
sempre com a matéria na ponta da língua. Em algumas provas da vida, não passar
pode ser desastroso. E às vezes, passar também pode ser. E o problema desse
excesso de possibilidades é que, não existe um professor para nos dizer se
erramos ou não. O resultado de uma “prova da vida” pode demorar décadas para se
revelar. E os resultados variam da felicidade extrema até as tragédias mais
dolorosas, sem que saibamos direito onde acertamos ou erramos naquelas
questões. E muitas vezes, quando aprendemos a lição já é tarde.
Como é
complexa nossa vida de humanos, colocados à prova até por nós mesmos a todo
instante.
Quando chegamos a vida adulta, o único “professor” com quem contamos para corrigir nossas provas diárias, somos nós mesmos. Alguns felizardos descobrem as terapias, nas quais constroem ferramentas que facilitam muito essa tarefa.
E, são
tantos os testes pelos quais temos que passar diariamente que, por extinto de sobrevivência,
preferimos nem tomar conhecimento de que estão ocorrendo a todo instante.
Ao nos
olharmos no espelho ao acordar, já passamos pelo primeiro teste do dia, o da
autoestima, que determinará se “vamos ou não estar "de bem" com a
nossa própria cara naquela manhã. Dizem
que nunca conseguimos nos ver como os outros nos veem. Dependendo do dia, nós
achamos melhores ou piores, mas nunca da mesma forma como os outros nos
veem. Dependendo do Humor, podemos nos
reprovar já de cara ainda de manhã cedo... E isso não é bom.
Acordar se reprovando é reprovável.
A
prova seguinte será imprevisível. E com certeza, também será relâmpago. Poderá
acontecer numa situação no transporte, no trabalho, na família, nos amores ou
com qualquer outro louco, que pode cruzar o caminho de qualquer um. E a gente
nunca mais terá aqueles 50 minutos em silêncio para pensar sobre o assunto e
lembrar de tudo que aprendemos, para só então decidirmos como agir.
As
respostas, na maioria das vezes, têm que ser na bucha, no susto. No calor dos momentos,
no arfar ofegante e agoniado da vida e com a adrenalina nas alturas
dificultando qualquer tentativa de racionalidade.
Ninguém
disse que seria fácil. E não é.
Afinal
existem pessoas que sempre estarão dispostas a nos reprovar. E a despeito
disso, continuaremos a "passar de ano", com aspas ou sem aspas,
porque o tempo não tem segunda chamada, nem prova de recuperação.
O fato é que não precisamos tirar 10 em todos os testes, todos os dias, o que precisamos é passar, nem que seja raspando. Ninguém aprende se não errar. Mas, também, se não acertar de vez em quando, não tem como aprender. Ambos, o erro e o acerto, fazem parte do mesmo processo chamado amadurecimento.
E
todos os dias, continuamos a escrever nossas histórias de vida nessa folha em
branco sobre a mesa.
... e
todo dia...
É dia
de prova.
Edmir Saint-Clair
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