A cidade da minha infância não tinha cheiro de mato ao entardecer. Nem rio passando embaixo de uma pequena ponte de madeira. Não tinha igrejinha branca em frente à praça. Não tinha leiteiro, que passava cedo, tocando uma sineta, com sua carroça puxada a cavalo. Não tinha a mercearia do seu Nicolau, que por sinal nem sei quem é.
Não tinha a Dona Maria, senhora bondosa, que distribuía doces a todas as crianças do grupo escolar. Não tem tinha trem apitando na estação que nunca existiu.
O cheiro mágico da minha infância é o da maresia de uma cidade praiana e praieira.
A minha
cidade tinha toda a poesia do mundo. Mas, não tinha cheiro de mato, nem rio
passando embaixo de uma pequena ponte de madeira, mas cresci muito feliz, na
beira do mar. Não tinha o Seu Nicolau, que por sinal nem sei quem é, mas tinha
o bar do Seu Antônio, que sabia quem eu era. Cresci jogando pelada na areia e
pegando jacarés, não a unha, no peito. Tinha circo em frente à praça, casa com
portão e a maioria das pessoas se conhecia. Tinha piquenique no Parque Lage e
tinha mistérios nas cavernas. Eu tinha conta no Mate/Limão do Eugênio da praia.
Tinha velha fofoqueira, que falava mal de todo mundo. Tinha porteiro que corria
atrás da gente. Tinha colégio de Padre e padre chato também.
Tinha festa aos sábado nos clubes, e
depois íamos comer pizza no bar Guanabara, que era ponto final de táxi e o
único que ficava aberto até de madrugada.
Esteja onde estiver, sempre que me
lembro da minha infância sinto que meus irmãos de pedra ainda sorriem para mim
e comigo, até hoje. Sempre me esperando voltar à nossa cidade mágica, encravada
ao sul de Ipanema e aos pés dos meus dois irmãos de pedra.
Edmir Saint-Clair
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