Escrevi esse texto no início
de 2019, um ano antes da pandemia mundial causada pelo Corona vírus. Durante a
pandemia, a ideia ganhou novas perspectivas que validam ainda mais sua
discussão. Numa hipótese de que já tivéssemos esse projeto implantado, não só
as aulas não precisariam ter parado em nenhum canto do Brasil, como um número
incalculável de outras atividades produtivas e informativas poderia continuar
funcionando com total segurança de isolamento e com prejuízos bastante
minimizados. O investimento necessário não chegaria a 10% dos prejuízos
evitados.
* * * *
A educação e a distribuição do acesso ao conhecimento se tornaram tão precários e ineficientes no Brasil que, sob os atuais modelos, somos absolutamente incapazes de atender às nossas necessidades. E nem de conseguir chegar perto disso nas próximas décadas.
A estagnação é tanta e o abismo é tão profundo que poucos ousam encarar o problema com a seriedade que ele exige.
Precisamos de um projeto educacional que tire a maioria dos brasileiros da marginalidade social e profissional. Precisamos de um projeto que envolva todo o país, traga resultados rápidos e que seja viável dentro de nossa realidade econômica.
Que vá ao encontro dos anseios da população, que democratize a informação e o conhecimento acadêmico-científico. No resto do mundo, a universalização do acesso informática e a internet estão acabando com a necessidade de se ter salas de aula formais e professores presenciais para oferecer educação de qualidade. O professor remoto está em vários locais ao mesmo tempo, 24h/7dias da semana. E na hora que o aluno desejar.
Ninguém mais precisará se sacrificar, ao extremo, para assistir a uma aula. Hoje, milhares de brasileiros, talvez milhões, saem exaustos de suas jornadas de trabalho direto para cursos noturnos precários, com professores “baratos”, para dar presença em aulas das quais não conseguirão reter nada de conhecimento, porque seu corpo e mente estão absolutamente extenuados devido ao dia exaustivo de trabalho e de tempo gasto no transporte.
Isso não significará o esvaziamento das instituições tradicionais de ensino, ao contrário, continuarão a serem os fornecedores de todo o conteúdo e dos processos didáticos necessários e decorrentes. Aumentarão, e muito, seu raio de alcance e, através do engajamento do público (alunos, consumidores), poderão aumentar proporcionalmente suas receitas através de patrocínios e remuneração por capacidade de mobilização e influência, como o fazem qualquer empresa ou pessoa considerada Influencer nas mídias digitais. Não haverá custos para os alunos e o sistema poderá funcionar de forma sustentável e com capacidade sempre crescente de valorização, já que estará capacitando e aumentando o potencial de consumo gerado pela prosperidade ocasionada pelo conhecimento pessoal obtido. Um moto contínuo, produzindo riqueza, promovendo a democratização das oportunidades e que trará, como consequência direta, uma divisão mais justa das riquezas produzidas.
O inicio dessa democratização será a produção de notebooks a preços acessíveis, o mais barato que se conseguir. Mais que isso, subsidiados em alguns casos. Casos de bolsa família, por exemplo, seriam distribuídos gratuitamente.
A configuração simplificada da máquina deve conter programas embarcados que permitam pesquisas, navegação e quantos mais aplicativos for possível a um custo realizável.
Notebooks a preço de custo e acesso a internet gratuita em todo território nacional
O Sistema operacional deve ser aberto e gratuito, tipo Linux, o que possibilita que ele seja continuamente trabalhado para atender as peculiaridades que, obviamente, surgirão num país com as dimensões do nosso.
Start Ups devem ser largamente incentivadas para o desenvolvimento de tecnologias regionalizadas para os segmentos de interesse. Sempre com a criação de sistemas abertos e generosamente compartilhados.
Às operadoras de telefonia celular seria dada a incumbência de viabilizar o acesso à internet 5G em todo o território nacional de forma gratuita (para algumas regiões) com qualidade e regularidade de sinal. Afinal, a elas é dado o direito de exploração comercial de um dos maiores mercados consumidores desse serviço no mundo. A contrapartida é justa e justificada, já que o desenvolvimento e crescimento estarão aumentando o mercado onde elas próprias atuam e do qual se beneficiarão.
Essa democratização e universalização do acesso ao conhecimento promoveriam uma transferência de Know-How e informações acadêmico-científicas a uma velocidade jamais vista. E que não poderá ser alcançada de outra maneira senão através dessa inclusão digital profunda. O futuro do mundo é digital, não existe sombra de dúvida sobre isso.
Imagine que num cenário como esse, um aluno do Acre poderá assistir uma aula da USP sobre qualquer assunto e a qualquer momento. De que outra forma ele teria essa oportunidade? Pensemos no que isso representaria em termos de evolução cultural e científica de nossa população. Haveria democratização verdadeira do conhecimento. Não conheço forma mais eficiente de se alcançar uma melhor distribuição de oportunidades.
O país cresceria, sustentavelmente, 50 anos em cinco.
A geração de soluções regionalizadas e customizadas sempre são as que melhor atendem às demandas de cada população, e isso aumentaria exponencialmente em todos os segmentos.
Milhões de pessoas seriam inseridas na sociedade de forma efetiva. A comunicação facilitada pela internet acabaria, virtualmente, com um obstáculo até aqui, quase intransponível em nosso país; as distâncias continentais.
Quantas iniciativas maravilhosas surgiriam a partir dessas novas possibilidades? Quantos brasileiros criativos e inteligentes ganharão voz e criarão soluções para problemas seculares?
Volta e meia, mesmo com todas as dificuldades atuais, vemos exemplos de superação acontecendo em todos os rincões do Brasil. Às vezes, iniciativas maravilhosas e isoladas de educar crianças e adultos em condições inimagináveis morrem junto com seus solitários idealizadores, sem que sequer tenhamos conhecimento. Se perdem, por falta de divulgação, de comunicação e do consequente apoio que o mesmo teria, se divulgado com eficiência.
O Brasil é muito grande. O lado negativo desse gigantismo é a dificuldade que essas distancias nos impõe. Principalmente, no campo do acesso a informação como um todo e a educação acadêmico - cientifica em particular.
O Brasil precisa de um projeto grande, ambicioso, viável e verdadeiramente eficiente. Que acredite na capacidade e na vontade que cada cidadão tem de progredir por esforço próprio. Um projeto que, uma vez iniciado não possa ser interrompido por mesquinharias político-ideológicas. Que esteja acima disso. Que todos nós acreditemos que nos levará a um futuro mais auspicioso. Que não seja conquistado por mágica, decreto ou discursos populistas demagógicos e mentirosos. São esses que não querem que projetos com essa abrangência existam. São esses que sempre se beneficiaram do analfabetismo e da ignorância do povo, porque sabem que essa é a única forma de mantê-los dependentes e submissos.
Um projeto como esse deve prever um aparato (hardware e software) que seja o mais simples possível. Tenho certeza que a simplicidade é o melhor caminho para se chegar longe.
No inicio as linguagens de
programação e a operação dos computadores era coisa para especialistas, até que
Bill Gates lançou o Windows e abriu o caminho, através da simplicidade e
intuitividade das interfaces, para que qualquer mortal pudesse operar um
computador e, mais que isso, ter um em casa. Hoje, qualquer pessoa, de qualquer
idade, é capaz de operar um PC ou um smartphone com poucas horas de
treinamento. E, quem não o sabe, está irremediavelmente fora do mercado de
trabalho formal. Está fora do mundo, já quase totalmente informatizado e
conectado.
Simplicidade é a palavra chave em qualquer processo. Tem que ser simples para que todos entendam. Tem que ser sedutor para que todos desejem (afinal, quem não gostaria de ganhar um notebook gratuito e acesso a internet gratuita). A eficiência estaria assegurada devido a alta taxa de adesão.
O crescimento econômico estará assegurado, por tempo indeterminado, de forma sustentável, gerando inclusão e distribuição de renda num grau inimaginável, hoje. E proporcionando evolução pessoal, através do conhecimento.
Pela primeira vez, poderemos sonhar em erradicar de vez o analfabetismo e a ignorância que mantém populações inteiras reféns de políticos inescrupulosos e suas políticas eleitoreiras interessadas em manter seus eleitores na ignorância para manobrá-los e dominá-los.
Precisamos ter um projeto de futuro no qual todos nós acreditemos. Que seja simples, viável e autossustentável. Que uma vez iniciado não possa ser parado.
Só quem é muito mal intencionado e tira algum proveito da ignorância alheia pode ser contra um projeto que fará nosso povo florescer e evoluir através do conhecimento e por méritos próprios.
Se forem oferecidas as ferramentas certas, nosso povo vai ser capaz de construir uma grande nação.
- Edmir Saint-Clair
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