Acho fantásticas as oportunidades únicas que as mídias sociais nos proporcionam para observar o comportamento humano. Não existe lugar onde as pessoas se exponham mais. Conheço pouquíssimas que conseguiram se manter à parte até agora.
Hoje, é a principal fonte de dados sobre hábitos, comportamentos e opiniões. Não fossem as limitações impostas pelos famosos algoritmos que limitam o alcance de cada perfil, os institutos de pesquisas nunca mais teriam que sair às ruas.
Quem estuda para entender sobre pesquisa e estatística, sabe como interpretar esses dados, podendo-se chegar a saber até a cor da roupa de baixo que a pessoa usa, quantas vezes por dia vai ao banheiro ou bebe água.
Tenho algum conhecimento técnico de como tabular e interpretar pesquisas, por ser publicitário e escritor, e isso tem uma valia inestimável para subsidiar meus trabalhos.
Dentre algumas postagens recorrentes, uma tem me chamado a atenção em especial: a exaltação das surras de cinto, de sandálias, tapas e outras lembranças da truculência e agressividade de certas práticas "educacionais" praticadas até poucos anos.
Causa-me estranheza a que ponto chega o saudosismo e a melancolia de alguns. Além, é claro, da falta de conhecimento sobre os incríveis avanços da ciência em todos as áreas do desenvolvimento humano.
Nunca pensei que veria meus contemporâneos se tornarem tão reacionários e resistentes a passagem do tempo, aos avanços dos conceitos, costumes e entendimentos sobre os processos que nos constituem, a ponto de fazerem declarações louvando surras de cinto e outras barbaridades praticadas e que, graças a evolução dos conhecimentos, foram banidas da esfera do aceitável.
As mesmas pessoas que proclamavam a paz e o amor no final do século 20, hoje, se dizem saudosas das surras de sandália ou de um tapa estalando na pele. Cadê a paz e o amor, principalmente com os filhos? Era só modinha? Parece que no Brasil, era sim.
Quando vejo as surras com sandálias, cintos e varas sendo consideradas e saudadas como “ferramentas educacionais” que fazem falta "hoje em dia", sinto muito mais pena do que raiva.
Quem tem saudade de um tempo em que apanhava com aqueles
apetrechos é porque deve estar, atualmente, apanhando muito mais dolorosamente
da vida. Deve estar se sentindo tão excluído do mundo, que o ruim de ontem lhe
parece melhor do que a vida lhes oferece hoje.
A raiva deve ser tanta que o desejo é sair dando porrada em tudo que lhes desagrada, pela solidão que a evolução lhes impõe, por não conseguir compreendê-la.
Mas, essa obsolescência tem cura; o conhecimento e a autodeterminação.
Há sempre coisas novas a serem descobertas, coisas interessantes, sejam quais forem os interesses.
Novidades estão sendo criadas, descobertas e pensadas todos os dias. E, não existe melhor forma de manter a importância da vida do que se importar com ela, do que cultivar a curiosidade. Do que continuar tendo a sede de saber os porquês.
A vida só se importa com quem se importa com ela.
A certeza é a pior inimiga da evolução. Quem acumula muitas certezas e não deixa espaço para novas dúvidas e mudanças, se torna obsoleto.
O obsoleto não tem mais importância, não tem serventia e já não conta mais, é carta fora do baralho.
Deve ser muito triste se sentir obsoleto, que é a mais dolorosa característica de quem perde o trem da história; a inutilidade existencial.
Para esses, a passagem do tempo arde muito mais do que o
mais ardido dos merthiolates de antigamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário